13.2.09

adoro voltar pra casa dos meus pais.
bagunçar aquele quarto que já não é mais tão meu, ouvir a panela de pressão chiando lá na cozinha junto com o toc toc toc da cenoura virando pedaços ou até mesmo poder esquecer as luzes ligadas e ainda assim ter uma boa noite de sono.
com a certeza sobre a qual ninguém quer tocar, sentados na mesa de jantar ou embolados no sofá da sala no horário da novela, mantenho a mesma postura daquele yuji que um dia abraçou sua mãe na beira da plataforma de ônibus e partiu pro japão sem dizer eu te amo, mas sentindo o maior amor do mundo.
nós dois sabemos que de repente um de nós vai partir.
por isso ela acorda depois do globo repórter,
vai até meu quarto e fala sem parar até as três da manhã.
mesmo se for a mesma conversa do telefone.
mesmo se eu já estiver dormindo.
por isso eu sempre desisto de estudar
vou até a cozinha com o pretexto de beliscar o pouco do bolo que acompanhou o papo da tarde
ou para ficar abrindo suas panelas e provar os pedacinhos de carne mais suculentos que ela encontrou no mercado.
e ela fala.
mesmo se for a mesma conversa da noite anterior.
mesmo se eu já estiver de saco cheio.
convivemos na linha tênue daquela lágrima que não caiu até o motorista dar a ré.
mas ainda bem que não é a de tristeza nem a de nostalgia. nem a de alegria porque chorar é mais fácil com um bocejo.
é a lágrima prima do riso nervoso e do olhar baixo.
o mesmo cisco que caiu no meu olho no primeiro dia da primeira série.
fiquei triste em saber que o horário de verão já está acabando.
gosto muito de acordar bem cedo pra ela me levar ao clube pra nadar naquela piscina gigante e vazia, enquanto lê o jornal da cidade e guarda as notícias da tv pra me contar tudo como se eu não tivesse ainda lido.
o sol sempre se põe mais tarde em piracicaba.


hoje volto pra casa.
e hoje tem globo repórter.
altas horas, com minha mãe.

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